«Seis polícias dispararam mais de 40 tiros sobre
um sem-abrigo. A divulgação de um vídeo amador está a indignar a comunidade nos
EUA, que reclama pela celeridade da investigação, mês e meio após a morte de
Milton Hall perante "um pelotão de fuzilamento fardado". Veja o vídeo em baixo
Milton Hall foi morto numa ação da polícia de
Saginaw, Michigan, nos EUA. Seis agentes armados dispararam 46 tiros, segundo a
imprensa local, sobre aquele sem abrigo, que tinha uma faca na mão.
Aconteceu a 1 de julho, mas a notícia só agora
ganha dimensão, com o aparecimento de um vídeo amador. As imagens são chocantes,
e mostram seis polícias a descarregar as armas num homem.
"Parecia um pelotão de fuzilamento com fardas
de polícia", desabafou Jewel Hall, mãe de Milton Hall. "Havia outra saída. Não
tinham de o matar. Ele não tinha feito nada, não era violento. Não era um
assassino, não era um criminoso", disse, em entrevista à CNN.
Jewel Hall disse que o filho tinha uma doença
mental e que recebia uma pensão de invalidez da Segurança Social. Leitor ávido,
ex-jogador de futebol americano, Milton tinha um passado como ativista dos
direitos humanos. "Sabia os direitos dele", disse a mãe.
Milton Hall, de 49 ano, vivia há 35 em Saginaw.
"Todoa a gente o conhecia. A polícia conhecia-o", disse a mãe da vítima. Por
isso, fica a questão: eles conheciam-no, porque o mataram?".
A resposta a esta pergunta está a demorar e a
levantar muitas outras questões. "Porque está a demorar tanto e porque não há
transparência", questiona a mãe da vítima.
"Isto tem de ser prioritário", argumentou
Norman Braddock, conselheiro municipal de Saginaw. "Precisamos de respostas",
disse Braddock, quando confortado com o vídeo que classificou de "perturbador",
que lhe foi mostrado pela CNN. "Percebo porque as pessoas fiquem traumatizadas
ao ver uma coisa destas", acrescentou.
A 1 de julho, seis polícias cercaram Milton
Hall, no parque de estacionamento de uma loja, em Saginaw, nos EUA, após uma
desavença entre a vítima e um funcionário, no interior da loja.
No vídeo, Milton Hall identifica-se e diz que
foi ele que ligou para o 911, o equivalente ao 112 em Portugal. "Estou muito
chateado", diz. Quando uma agente lhe diz para pousar a faca no chão, recusa:
"Não vou por m...* nenhuma no chão".
O frente-a-frente com a polícia dura cerca de
três minutos e acaba de forma abrupta e violenta quando Milton Hall dá uns
passos para a esquerda, na direção de um polícia que se havia deslocado para
aquele lado. São cinco segundos de disparos.
"Estou atorodoada ao ver seis seres humanos a
disparar 46 tiros sobre outro ser humano", disse a mãe da vítima. "Não consigo
perceber isso. Sinto uma grande dor, porque bastava um tiro. Por isso fica a
questão, porquê?".
Lou Palumbo, um ex-polícia, ouvido no programa
da CNN "Anderson Cooper 360", diz que o vídeo é "um pesadelo" para qualquer
departamento de polícia e reflete falta de treino dos polícias.
Considerando que aquele não era um cenário para
descarregar as armas, Palumbo esclarece que, no entanto, o tiroteio pode vir a
ser considerado justificável. "Um indivíduo com uma faca na mão pode ficar em
cima de um polícia numa fração de segundo. O público não sabe disto porque não
faz disto modo de vida", explicou.»
Texto in JN online, 22-8-2012