segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

José Carlos Martins falso herdeiro do Pingo Doce sacou 4 milhões


«Viveu à grande durante 13 anos sem trabalhar e à custa das poupanças de futebolistas e empresários. Estes acreditaram estar perante um descendente do grupo Jerónimo Martins, do Pingo Doce. José Carlos Martins sacou-lhes pelo menos quatro milhões de euros.






O Ministério Público do Porto acusa agora este indivíduo, agora com 43 anos, por burla qualificada, a par da ex-mulher. Filha de um engenheiro e de uma professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Cláudia também beneficiou dos milhões de euros entregues pelas vítimas e, segundo a acusação pública, foi fulcral para o sucesso do esquema. Às autoridades, intitulou-se "estilista", em casa. Tudo começou em 1996 quando José Carlos Sousa Martins, filho de uma operária fabril de Braga, conheceu a namorada e passou a frequentar a zona do Bessa, em especial o salão de Carlos Sampaio.

Com a ajuda da mulher, era apresentado como "Ricardo Martins" herdeiro do grupo "Jerónimo Martins", detentor de um império que, entre outros negócios, incluía a cadeia Pingo Doce, supermercados na Polónia e uma tabaqueira na Austrália.

Bem falante e com boa imagem, para os amigos futebolistas (e não só) que conheceu no cabeleireiro onde passava as tardes passou a ser conhecido como Ricardo "Pingo Doce". Amizade puxa amizade e, por força dos "negócios" da família e da especial amizade com Ricardo - então guarda-redes da Selecção Nacional-, foi convencendo jogadores do Boavista e empresários que lhe apareceram a entregarem-lhe dinheiro para investimentos "sem risco" e com retorno assegurado no imobiliário e área financeira. Os juros eram superiores aos que os bancos davam.

O "herdeiro" sabia que, em muitos casos, o segredo estava na imagem. Assim, durante mais de dez anos, foi mantendo "contactos" com a sua família, que tinha ainda ramificações ao grupo de construção civil Soares da Costa . Um apartamento luxuosamente mobilado no Bessa e o facto de circular com Mercedes e Porsches também ajudaram a criar e manter o conto do vigário.

Além disso, a sensação de veracidade dos investimentos era dada pela circunstância de, por norma, os jogadores não pedirem a devolução dos investimentos ao final do prazo. Os supostos lucros iriam acumulando...

Noutros casos, o falso herdeiro do Pingo Doce chegou a devolver algum dinheiro aos investidores - o que ajudou à manutenção da farsa. Mas afinal as verbas eram de outros lesados.

O esquema à moda de Dona Branca (a conhecida "banqueira do povo", em Lisboa nos 80 do século passado) tornou-se insustentável a partir de 2009. Ricardo teve de fugir para o Brasil. Já tinha sacado mais de quatro milhões de euros. Mas nas suas contas circularam mais oito milhões - o que leva a acreditar que muitos lesados optaram por não se queixar.»



in JN online, 26-12-2011

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