«Uma omissão das autoridades ajudou a matar a juíza Patrícia Acioli, de 47 anos, famosa por condenar polícias envolvidos em crimes, executada na sexta-feira com 21 tiros ao chegar a casa, em Niterói (Rio de Janeiro), onde era esperada por vários homens encapuçados com armas de grosso calibre. Dois dias antes, um agente da divisão anti-drogas da Polícia Civil (Judiciária) do Rio de Janeiro tinha avisado a Polícia Federal de um plano para assassinar a magistrada.
- A juíza Patrícia Acioli
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O agente foi pessoalmente à sede da Polícia Federal na capital carioca informar a descoberta do plano, tal era a gravidade do caso. Essa denúncia, no entanto, apesar de ter partido de uma pessoa com credibilidade, não levou à tomada de qualquer medida especial de protecção à juíza, que não tinha escolta nem usava carro blindado.
Uma semana antes, a própria Patrícia Acioli tinha ido à sede da Polícia Militar denunciar que estava a receber ameaças de morte por parte de agentes daquela corporação. As ameaças, segundo ela, partiam de polícias dos batalhões de São Gonçalo, cidade da Grande Rio de Janeiro onde ela actuava, e de Niterói, onde vivia.
As duas denúncias ou não foram levadas a sério ou perderam-se na burocracia interna das duas corporações, pelo que nenhuma medida foi tomada. Tal como o pedido de escolta que, segundo um juiz amigo da falecida, esta tinha feito há um ano e meio ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e que nunca foi atendido.
MARCADA PARA MORRER
Patrícia Acioli era uma pessoa marcada para morrer. Em 2009, a própria Polícia Federal descobriu um plano da chamada Máfia das Carrinhas, que controla o transporte ilegal no Rio de Janeiro e cidades vizinhas, para executá-la, depois de a magistrada ter mandado prender líderes do grupo.
Em Janeiro deste ano, outra evidência do risco que a vida da magistrada corria foi descoberta. Uma lista encontrada junto a um líder do crime organizado preso nessa altura continha os nomes de 12 pessoas a serem executadas - o da juíza era um deles.
Famosa pela coragem com que enfrentava o crime organizado e, principalmente, a chamada 'Banda Podre' da polícia, constituída por agentes ligados a milícias, esquadrões da morte e assassínios encomendados, Patrícia Acioli colocou atrás das grades pelo menos 60 polícias nos últimos dez anos. Mas ganhou o ódio dos homens de farda que agem como criminosos e a antipatia até dos que agem dentro da lei mas não gostam de ver companheiros de armas na prisão.
A luta contra polícias criminosos afectou até a sua vida pessoal. Após viver maritalmente cinco anos com o cabo da polícia Marcelo Poupel, também do batalhão de São Gonçalo, Patrícia acabou por ter que se separar, e queixou-se várias vezes de que o cabo, que a espancou mais de uma vez, a pressionava fortemente para que não prendesse os seus colegas.»
in CM online, 16-8-2011
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