«Durante 12 anos viveu ao lado de figuras do mundo do futebol, a quem dizia ser "filho de Jerónimo Martins". Era investidor (e gastador) de muito dinheiro e conseguiu convencer os amigos a ceder-lhe milhões de euros para ganhos vultuosos. Afinal, era tudo mentira. Foi preso.
José Carlos Sousa Martins, 42 anos, intitulava-se "Ricardo Martins" e descendente "fora do casamento" do "dono" do grupo de distribuição alimentar que inclui o Feira Nova e o Pingo Doce. Noutros contextos, dizia ser familiar de "Soares da Costa", em alusão a um suposto proprietário daquela sociedade de construções.
A pertença a "boas famílias", com suposto acesso a investimentos e informações privilegiadas, e a vida faustosa que evidenciava (ver texto na página seguinte), convenceram vários hoje ex-futebolistas, em especial ligados ao Boavista, a aceitar as constantes propostas que apresentava: entregarem-lhe dinheiro para investimentos no ramo imobiliário, com rentabilidades milionárias que chegavam aos 100%. Uma espécie de esquema "Dona Branca".
Atraídos pela tentação foram, por exemplo, Ricardo (que viria a ser guarda-redes do Sporting e Selecção Nacional), Jorge Couto (ex-jogador do F.C. Porto), Hélder (também actuou no Rayo Vallencano, Espanha), Sérgio Leite, Jaime Pacheco (treinador e antiga glória do F.C. Porto), entre outros.
Alguns destes protagonistas do mundo do futebol que acreditaram em Martins tiveram efectivamente retorno dos seus investimentos. O que, afinal, só terá servido para aumentar a confiança, elevar as verbas envolvidas e transmitir imagem de credibilidade perante outros investidores.
Porém, só após mais de 10 anos de amizade e negócios é que os futebolistas detectaram o logro em que caíram. As desculpas sucederam-se: eram as "aplicações financeiras que ainda não tinham vencido", era a "crise do imobiliário"... E, afinal, descobriram que o "amigo" não era da família Jerónimo Martins. Andou, sim, durante todo o tempo a gastar o dinheiro que era deles numa vida de luxo e sem trabalhar.
No final do ano passado, foram apresentadas queixas por burla na PJ-Porto - mas nem todos os enganados, como foi, para já, opção de Jaime Pacheco e Ricardo.
Foram estas cerca de 10 participações que levaram as autoridades agora a partir para a detenção do suspeito, após um período passado no Brasil, presumivelmente ainda a gastar o dinheiro das vítimas e em que foi investigado. Entre outras informações, a PJ apurou que, atendendo às verbas movimentadas nas suas contas bancárias ao longo dos anos, o montante das burlas ultrapassará os 10 milhões de euros.
Porém, no conjunto das queixas já apresentadas estão em causa pouco mais que três milhões de euros - incluindo um milhão que foi entregando aos burlados para lhes transmitir a sensação de veracidade nos investimentos.
Residente em Braga, onde também foi empresário de jogadores de futebol (tendo como sócio Nuno Baptista, irmão de Hélder), José Carlos Martins foi detido e alvo de buscas, incluindo um apartamento na Boavista, no Porto.
Interrogado ontem no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, o juiz decretou-lhe prisão preventiva, considerando-o indiciado por seis crimes de burla qualificada. Contactado pelo JN, Marcelino Pires, advogado do arguido, disse que vai "apresentar recurso" para a Relação do Porto.»
in JN online, 18-11-2010
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