sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Montemor-o-Velho: Mário Pessoa julgado pelo homicídio da mulher e de um militar da GNR

«"O amor é doido. O amor que eu tenho pela Manuela é doente." Foi assim que Mário Pessoa, o homem que assassinou a tiro a mulher e um militar no posto da GNR de Montemor-o-Velho, tentou ontem, no julgamento, descrever a relação que mantinha com a vítima Maria Manuela Rama Costa, 35 anos.




Garantiu que não a queria matar, mas sim suicidar-se. Só que, no último momento, acabou por disparar sobre a mulher, pelo menos quatro tiros de caçadeira.

Durante o depoimento, referiu-se à vítima como a sua "querida Manuela", mas, ao mesmo tempo, acusa-a de lhe ter retirado a "dignidade". E o seu tom de voz sobe quando diz que a via "rodeada de predadores" e a acusa de o encarar como "um utensílio". Agredi-la, diz que só o fez por duas vezes. Uma quando ela tinha 17 anos, mas "não um bater de ser agredido". Ou seja, não deixou marcas. Na segunda, deu-lhe "três palmadas" por ter ido a uma discoteca. De resto, garante, "não lhe faltava nada. A minha Manuela era bela, era vaidosa".

Mário Pessoa chorou várias vezes ao longo do depoimento e diz que ainda hoje não acredita que a tenha matado. "Eu sei que estava lá, mas não acredito como consegui fazer o que fiz." No dia 29 de Novembro do ano passado, confirma ter ido a casa da vítima, mas nega tê-la espancado. Ao contrário do que refere a acusação, Mário Pessoa afirma que pretendia descansar e que a vítima "sentou-se em cima" dele e tentou manter relações sexuais, magoando-o. Garante não a ter agredido e que só foi atrás dela quando o filho disse que a mãe tinha ido à GNR apresentar queixa. "Fui a minha casa e agarrei numa faca para tirar a vida a mim próprio", mas não teve coragem.

Carregou a arma para se matar "à frente dela", mas, ao chegar à porta do posto da GNR, depois de perseguir a ambulância que a levava para o hospital, não hesitou e apontou-a à mulher, que tinha a filha de seis anos ao colo. Manuela Costa atirou a criança para longe, mas ainda foi atingida pelos chumbos. Mário Pessoa afirma não ter visto a menina antes de atirar: "Se a visse, perdia toda aquela loucura que estava sobre mim", garante.

No interior do posto, não se lembra de ter atirado sobre o soldado José David Dias, 42 anos, vítima mortal, nem sobre o cabo Adérito Teixeira, ferido. Na cela, recorda--se de ter sido puxado para trás quando estava a tentar suicidar-se com o revólver que escondia no bolso.

FÃ DE FILMES DE COWBOYS

Mário Pessoa revelou ontem em tribunal a sua paixão por filmes de índios e cowboys, com particular fascínio pela imagem dos cavaleiros com "coldres enormes". Ao longo da sua vida, sentia-se, como reconheceu, um "duro". Muito diferente da imagem que passou durante a audiência. "Vivo num abismo", reconheceu, ao lembrar que perdeu "tudo". No início da audiência, começou por pedir "perdão a todos" e lamentou que à porta do posto da GNR "ninguém gritasse: pára Mário!", para ele "acordar". Mário Pessoa afirmou que não viu "ninguém morrer" e ele sabe o que é "um coelho levar um tiro". Quando matou a mulher, admite que virou o olhar. No caso dos disparos contra os militares, não nega a autoria dos tiros. "Se a arma estava na minha mão... mas na minha cabeça não fiz os dois disparos."»


in CM online, 19-11-2010

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