quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Morte de Rosalina Ribeiro: As 10 perguntas a que Duarte Lima não responde

«Autoridades dizem que o advogado não é formalmente suspeito, mas está a dificultar a investigação.



Os investigadores da morte de Rosalina Ribeiro confirmam que Duarte Lima "não é formalmente suspeito" no crime mas salientam que "recai sobre ele uma suspeição".

Uma fonte que participa na investigação explica a diferença: "se fosse suspeito significaria que haveria indícios muito fortes sobre ele. A suspeição deve-se ao facto de não estar a colaborar na investigação. E do seu comportamento nos levantar muitas dúvidas".

Apesar do delegado Felipe Ettore, que chefia a brigada de homicídios que investiga o caso, já ter afirmado que Duarte Lima "não é suspeito", a sua equipa está cada vez menos convencida da versão relatada pelo advogado sobre os factos de 7 de dezembro. Dois investigadores brasileiros disseram ao Expresso que continuam à espera das respostas ao último email enviado a Lima, a 9 de fevereiro. "Se ele nos enviou alguma carta, foi parar ao endereço errado".

Versão diferente tem uma fonte próxima de Duarte Lima: "Foi enviada uma petição assinada pelo seu advogado brasileiro a 15 de abril e entregue às autoridades do Rio de Janeiro". Lima deixou ainda o contacto desse advogado para "qualquer comunicação urgente ou necessária".

Nas últimas três semanas, o Expresso tem falado com esta fonte ligada ao ex-deputado do PSD. Mas nem esta nos esclarece de algumas das dúvidas levantadas pela polícia brasileira (ver caixa), nomeadamente sobre a ausência de resposta ao email de fevereiro.

Duarte Lima terá referido às autoridades que saiu do Rio de Janeiro às 20h30 com Rosalina e chegou a Maricá às 21h20. Depois de deixar a cliente junto ao Hotel Jangada com Gisele, regressou sozinho. "Ele não pode ter feito a viagem de carro entre o Rio e Maricá em tão pouco tempo. Até eu, que costumo fazer o caminho várias vezes, de dia, me perco. E ele percorreu-o de noite. Quem lhe ensinou?"

O advogado terá afiançado que o tempo de viagem para Maricá é mais do que suficiente: "São 60 quilómetros sempre em autoestrada". E que terá viajado sozinho com Rosalina.

Em entrevista à RTP, na quinta-feira, o advogado deixa entender que Rosalina levava um telemóvel. Algo que intriga a polícia. "Só ele viu esse telemóvel".

Para a investigação no Brasil, que envolve dez pessoas, outra peça que não encaixa no puzzle é o facto de Duarte Lima reafirmar que foi Rosalina quem combinou o encontro com ele nessa noite. "Temos provas de que ele lhe ligou para casa nesse dia por cinco vezes". Também não faz sentido para os investigadores que Lima tenha referido ter alugado o carro com dinheiro. "No Brasil as empresas de rent-a-car só aceitam cartões de crédito". A fonte ligada ao ex-deputado assegura não haver "nenhuma declaração formal ou escrita no processo feita por Lima que corrobore essas afirmações".

As autoridades referem que o trabalho da polícia ficaria simplificado se, ao menos, Lima revelasse o modelo do carro em que viajou de Belo Horizonte até ao Rio de Janeiro e daí até Maricá. "Bastar-nos-ia cruzar esse dado com o registo das portagens e dos radares para confirmar, ou não, as nossas suspeitas". Ao Expresso, a fonte próxima do advogado também não prestou esclarecimentos sobre esta questão.

As autoridades brasileiras têm tido mais sorte nas pistas sobre o autor dos disparos que vitimaram Rosalina. Um homem ouviu "dois ou três tiros" e viu os faróis de um carro a afastar-se do local do crime. "Não podemos adiantar mais nada".

Carta rogatória a caminho

Duas fontes ligadas ao processo adjetivam a cooperação com a polícia portuguesa de "perfeita". As autoridades dos dois países têm mantido contacto quase diário "através de telefone e email". O último foi na quarta-feira. Os brasileiros estão a ultimar a carta rogatória que poderá chegar durante a próxima semana ao DIAP, em Lisboa. "Logo, logo está a caminho". O objetivo é poder interrogar Duarte Lima. Não está posta de parte a hipótese de uma equipa de investigadores atravessar o Atlântico para o questionar.

Olímpia Féteira, a filha do milionário, também foi ouvida pela polícia brasileira, em março. A sua defesa é conduzida por José Miguel Júdice, que remeteu a litigância criminal para José António Barreiros. Foi ele quem a acompanhou ao Brasil, para prestar um depoimento sobre o caso. "Não é considerada suspeita", sustenta a mesma fonte no Rio de Janeiro.


As 10 perguntas a que Duarte Lima não responde:

• Que carro guiava no dia 7 de dezembro entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. E depois entre o Rio e Maricá?

• Em que firma alugou o veículo, em Belo Horizonte?

• Efetuou mesmo o pagamento no rent-a-car em dinheiro e não com um cartão de crédito?

• Porque ligou cinco vezes para casa de Rosalina naquele dia? Foi mesmo ela quem marcou o encontro entre os dois no Rio?

• A conversa teve lugar num restaurante ou numa 'lanchonete'? Qual o nome desse estabelecimento?

• Se foi numa 'lanchonete', não seria um local muito barulhento e pouco apropriado para se discutirem negócios?

• Como conseguiu ir do Rio até Maricá tão rapidamente? E como soube regressar sozinho, num caminho em que até os locais se perdem?

• Que tipo de negócios foi resolver a Belo Horizonte, antes de ir ter com Rosalina?

• Sabe o número do telemóvel que diz que Rosalina levava consigo naquela noite?

• Porque não revela o parecer da Ordem dos Advogados sobre o levantamento do sigilo profissional?»

Texto in Expresso online, 01-9-2010

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