terça-feira, 15 de junho de 2010

Ermelo, Mondim de Basto: arguido António Cunha confessa crime



«O arguido António Cunha admitiu hoje, terça-feira, no Tribunal de Vila Real, que disparou contra Maximino Clemente no dia das eleições autárquicas em Ermelo, justificando que há meses que "era ameaçado" e andava com "medo" e "atormentado".

Cunha começou hoje, terça-feira, a ser julgado pelo crime de homicídio qualificado, detenção de arma proibida e detenção de arma em local proibido, nomeadamente na assembleia de voto de Fervença, freguesia de Ermelo, Mondim de Basto.

Cerca das 7.30 horas do dia 11 de Outubro de 2009, o arguido disparou um tiro de caçadeira de canos serrados atingindo mortalmente Maximino Clemente na cabeça.

O arguido confessou ao coletivo de juízes ter disparado mas, ao contrário do que diz a acusação, fora do edifício da antiga escola primária, onde estava instalada a assembleia de voto.

Disse que chegou ao local com a arma a "descoberto" e que disparou contra as pernas.

"Vi o Maximino em frente a mexer nuns papéis. Ele viu-me e baixou-se e eu tive medo e disparei o tiro para as pernas. Não o queria matar", referiu.

António Cunha repetiu por várias vezes que andava "com medo" e "atormentado" porque estava a ser ameaçado pela vítima e, inclusive, contou que nessa mesma manhã, quando a madrugada estava a romper, encontrou Maximino Clemente num cruzamento e que este disparou contra o vidro do seu carro.

Nessa altura, Cunha conduzia um automóvel que pediu emprestado a um vizinho porque, conforme justificou, o seu carro estava avariado no motor de arranque.

Foi depois disso que foi a casa buscar a arma e diz que foi à assembleia de Fervença avisar um colega para "aguentar" porque, como estava a ser ameaçado, ia sair de Ermelo.

"Eu não sabia que ele (Maximino Clemente) estava lá", salientou.

O arguido referiu que comprou a arma dois meses antes, em Chaves, e que os problemas com a família da vítima já se arrastavam há mais de 30 anos.

"Foram 20 e tal processos de perseguição política. Fiquei financeira e psicologicamente esgotado", sublinhou.

Acrescentou que, depois de ter saído da junta, há 17 anos, só foi três vezes a Ermelo e "de fugida".

Cunha, reformado depois da guerra do Ultramar onde ficou ferido, foi presidente da junta de Ermelo e divorciou-se quando já estava em prisão preventiva.

Depois do disparo, o arguido diz que ficou completamente "desorientado" e por isso fugiu, entregando-se à Polícia Judiciária dois dias mais tarde, quando já estava "mais calmo".

António Cunha era o candidato pelo PS à junta de Ermelo e concorria contra a mulher de Maximino, Gloria Nunes, que acabou por ganhar as eleições pelo PSD.

A família da vítima, a viúva Glória Nunes e os seis filhos, constituíram-se como assistentes no processo e reivindicam uma indemnização civil.

De Mondim de Basto vieram muitos populares para assistirem ao início do julgamento em Vila Real, local escolhido por oferecer melhores condições de segurança.

"À porta do Tribunal de Vila Real era visível um forte aparato policial, com duas dezenas de agentes, alguns dos quais da força de intervenção rápida.»
Texto in JN online, 15-6-2010

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