«"O meu pai debruçava-me sobre o lavatório da casa-de-banho e violava-me. Doía muito". O relato feito, ao JN, pela jovem surda, de 26 anos, que diz ter sido abusada pelo progenitor. "Por ele e por outros homens", acusa.
"Gabriela" (nome fictício) tem dois filhos. Um menino de quatro anos e uma menina com apenas uma semana de vida. Ambos podem ser filhos do próprio avô. Diz que o que a leva a ter tanta certeza é o facto de o progenitor "ejacular mais".
De estatura média, olhos grandes e expressivos, "Gabriela" aceitou descrever o "horror" que tem vivido. Não ouve, mas tem alguma oralidade e escreve, embora com dificuldades. Tem apenas a 3ª classe e em casa dos pais, onde vivia, numa freguesia rural do concelho de Faro, "trabalhava, era a empregada de limpeza". A memória começa por recuar aos 16 anos. "O meu pai atirou-me para o chão e violou-me. Estávamos no campo. Chorei muito. Doeu muito". Perde-se a conta aos episódios que descreve. A maior parte tem como cenário a sua casa e decorriam enquanto a mãe estava a trabalhar. O pai faz trabalhos de construção civil. "Apareciam lá em casa muitos homens. Os meus pais diziam para me deitar com eles. Eu obedecia. Havia um indiano que a minha mãe dizia que era muito bonito". Jura que o progenitor agredia o menino de quatro anos, que nunca foi vacinado. Entre os pais "também havia porrada".
"Gabriela" nunca fala em relações sexuais protegidas. "Tomava a pílula porque o meu pai levou-me a umas consultas". Eram de planeamento familiar. Ao mesmo tipo de consultas foi levada "Andreia", de 15 anos, irmã mais nova de "Gabriela". Foi a jovem, também surda, que despoletou o caso, ao revelar na escola que tinha sido igualmente abusada. Contou que o pai lhe acariciou os seios e que, por ter reagido, levou uma bofetada e foi de castigo para o quarto. Agora está numa instituição e garante que sair da casa dos pais foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Só lamenta estar longe de "Gabriela", a quem ensinou língua gestual.
Para que "Gabriela" pudesse dar à luz, o filho de quatro anos foi colocado no Refúgio Aboim Ascensão e ainda não terá sido devolvido à mãe. A mulher está numa "casa abrigo" com a bebé, nascida no passado dia 25. Ao que o JN apurou, há dois processos a correr na Justiça. Um no Tribunal de Família e Menores de Faro e outro judicial, que está em segredo de justiça. Decisão decretada depois de ouvidos os relatos das irmãs.
O JN contactou os pais das duas jovens, que se limitam a dizer que elas estão a mentir.
A Polícia Judiciária não avança para eventuais diligências por estar à espera de resultados de exames periciais, para assim tentar comprovar cientificamente o que elas dizem.»
in JN online, 02-6-2010
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