«Paulo Nunes já tinha sido apanhado por simular sequestro e desviar 33 mil euros. Juiz soltou-o mas Judiciária voltou a caçá-lo por roubo à mão armada.
Director da Remax de Alfornelos, na Amadora, Paulo Nunes foi detido em 23 de Junho – no dia em que simulou o assalto a uma carrinha da TNT, em conluio com o funcionário ‘roubado’, para dividir com a falsa vítima os 33 mil euros desviados à empresa, em Lisboa. Foi mal encenado, a Judiciária desmascarou os dois e outro cúmplice, mas o juiz libertou-os. Até que a mesma Secção de Roubos da PJ descobriu agora que o gestor, aos 39 anos, não fazia só teatro. Fez um verdadeiro sequestro e assalto à mão armada em Sintra, e está finalmente na cadeia.
Dessa vez, sem um infiltrado na empresa a assaltar, Paulo Nunes e dois cúmplices – um dos quais brasileiro, seu funcionário na Remax, que também participou na simulação de sequestro e roubo em Junho – invadiram um armazém com máscaras de Carnaval, gorros, pistola e facas em punho.
Os três assaltantes estavam nas instalações da Expresso 24, que eram bem conhecidas do empresário porque já lá trabalhara, e por isso sabiam o que procurar: um cofre com milhares de euros. Aproveitaram o momento em que um só funcionário estava a trabalhar, em Abril, e sequestraram-no até descobrirem, dentro de uma gaveta, o cofre com mais de seis mil euros em notas e cheques. Depois fugiram e deixaram a vítima sem o telemóvel, para não alertar logo a polícia.
Era esta a vida paralela de Paulo Nunes, em contraste absoluto com a imagem de respeitável empresário – gestor de uma imobiliária em Alfornelos, onde a crise o impediu de continuar a intermediar a venda de apartamentos a bom ritmo e ganhar as respectivas comissões.
Com despesas fixas, entre contas e os ordenados de funcionários para pagar, acumularam-se as dívidas e despertou para o mundo do crime. De resto, encontrou ao seu lado um funcionário com alguma experiência – o imigrante ilegal estava já referenciado por crimes de furto. Avançaram juntos para pelo menos dois assaltos, mas a PJ não descarta a hipótese de haver mais.
OITO E 15 ANOS DE CADEIA
Pelo assalto simulado, Paulo Nunes e cúmplices arriscam até oito anos de cadeia por abuso de confiança qualificado. Agora, por roubo qualificado, podem levar até 15 anos.
CONHECIDO POR BURLAS
O empresário já tinha sido investigado anteriormente por crimes de burla. O funcionário, ilegal no País, participara em furtos.
PRISÃO PREVENTIVA
Indiciados pelo roubo em Sintra, Paulo e dois cúmplices recolheram sexta-feira à cadeia.
GANG TRAÍDO POR MAU ENSAIO EM ROUBO ENCENADO
Estafeta na empresa de entregas de dinheiro e valores, um funcionário brasileiro da TNT, aos 31 anos, foi tentado pelo dinheiro dos clientes, em Lisboa. Decidiu em Junho dar um golpe, mas, para não ser apanhado, em vez de roubar, tinha de ser roubado. Combinou com Paulo Nunes e o seu funcionário na Remax, que o ‘sequestraram’ na tarde de 23 de Junho. Foi ameaçado com um revólver, agredido e manietado, numa rua de Chelas. Levaram 33 mil euros, entre cheques e dinheiro, só que o teatro foi mal encenado. Mal ouviram a ‘vítima’ e testemunhas no local, os investigadores da Secção de Roubos da Polícia Judiciária desmontaram a mentira. Os assaltantes deixaram-no ficar com o telemóvel – o que seria quase inédito num roubo assim – e encenaram mal a fuga. O brasileiro confessou e a PJ chegou aos cúmplices, recuperando o dinheiro nu-ma casa em Alfornelos, onde Paulo Nunes tinha a sua imobiliária.
ATACA AO LADO DO VENDEDOR DA IMOBILIÁRIA
Paulo Nunes, 39 anos, que detinha o franchising da Remax de Alfornelos, agência onde era director até ser preso, terá alinhado no esquema do assalto encenado através de um funcionário da imobiliária – brasileiro de 29 anos, que seria conhecido do motorista da TNT que se fez de vítima. E para este seria o crime perfeito, caso a PJ nunca descobrisse a sua ligação aos dois falsos assaltantes. Bastava fingir-se de vítima e ninguém poderia provar o contrário. Ao fim de algum tempo só tinha de ir pedir aos amigos a sua parte no dinheiro roubado – 11 mil euros em dinheiro, uma vez que os cheques não dariam para levantar.»
in CM online, 12-7-2010
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