«Quando a vítima de rapto ligou ao seu gerente de conta a pedir-lhe os 200 mil euros para o resgate, do outro lado da linha já estava um inspector da Judiciária. A Unidade Nacional Contra-Terrorismo sabia que o empresário estava em cativeiro, na madrugada de sábado.
E ao prontificar-se a ir entregar em mão o dinheiro ao grupo de raptores, o falso bancário obteve a localização preciosa que faltava à operação da PJ para avançar. Viana do Alentejo.
Por essa altura já Daniel, 37 anos, estava há 13 horas acorrentado e algemado a uma parede, num anexo da vivenda de dois dos três raptores – Joaquim Machado e a sua mulher, ambos na casa dos 40 anos.
O motivo do crime, que teve a participação de um empregado do casal, prende-se com desacerto de contas e dívidas na sociedade de camionagem que a vítima e os raptores geriam.
Joaquim Machado acusa o sócio de dívidas – e entendeu que a melhor forma de o forçar a pagar era raptando-o. Daniel, português com residência em Badajoz, Espanha, foi feito refém na manhã de sexta-feira e levado para uma vivenda em Aguiar, perto de Viana do Alentejo. Teve direito a um telefonema para arranjar 200 mil euros – e, ao que o CM apurou, utilizou-o para ligar a um amigo.
Este estranhou aquele pedido de dinheiro e avisou a Polícia Judiciária. Nessa altura, recebeu logo instruções para, no próximo telefonema, dizer a Daniel que ligasse para o seu gerente de conta. E assim foi.
Só que o número fornecido à vítima não era de um bancário – mas sim de um inspector da PJ. Este recebeu a chamada e prontificou-se a levar o dinheiro ao Alentejo. Marcaram encontro numa zona isolada, a cerca de dois quilómetros da vivenda onde Daniel era mantido em cativeiro – e o casal de raptores nem teve tempo para sair do carro. Foram presos por cerca de dez inspectores que se deslocaram de Lisboa, os mesmos que, a partir daí, tomaram de assalto a vivenda. Aí prenderam o terceiro raptor e libertaram a vítima.
"A CRISE NESTAS EMPRESAS LEVA AO DESESPERO"
Manuel Silvério, também gerente de uma empresa de camionagem, sediada na localidade vizinha de São Bartolomeu do Outeiro, diz compreender as atitudes “menos próprias” de outros profissionais do sector. Mas não as aceita.
“A crise que se vive nestas empresas leva ao desespero. Apesar de muitos terem a corda ao pescoço devido à falta de pagamentos dos serviços, não é com raptos ou agressões que resolve os problemas”, referiu ao CM o proprietário de uma frota de dez camiões.
Silvério, 37 anos, acrescentou que todos os dias fecham empresas devido aos prejuízos. “Passamos o tempo a enviar e-mails e fax para pagarem, mas nada. Já cheguei a ir a Espanha e deparei-me com as portas da empresa fechadas”, referiu o camionista, que diz ter “a haver entre 60 a 80 mil euros”.
"INSPECTORES PASSARAM A ALTA VELOCIDADE"
Joaquim Casquinha, proprietário das bombas de gasolina perto da vivenda do raptor, estava longe de imaginar o que iria ocorrer quando viu a vítima a passar no seu carro na sexta-feira de manhã. “Eram aí umas 11h00 quando passou sozinho. Só estranhei depois o facto de o empregado andar sempre ao portão a espreitar e um corrupio de carros a passar à noite perto da casa.” Mas foi já quase de madrugada que Joaquim se apercebeu de que algo de grave se passava. “Os inspectores passaram a toda a velocidade. Um saltou o muro para abrir o portão da vivenda e os outros entraram de carro para o libertar.”
RAPTORES
Segundo os populares de Aguiar, Joaquim Machado e a mulher mudaram-se de Évora para a aldeia há quatro anos.
LIBERDADE
Nenhum dos três raptores tem antecedentes criminais. Aguardam julgamento com apresentações periódicas à polícia.
SOCIEDADE
A empresa de camionagem está em nome de Joaquim Machado e da mulher. Era Daniel quem arranjava a maioria dos trabalhos e pagava as contas.»
in CM online, 16-6-2009
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